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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Caso vença Dilma. A linha da Política Externa Brasileira será a mesma do Governo Lula (2003-2010) ?

Se a vitória de Dilma para presidente do Brasil ocorrer quais serão as diretrizes de seu futuro governo na Política Externa Brasileira? Rosangela Bittar em seu artigo publicado no jornal Valor Econômico do dia 18 de agosto Os Disfarces Preparatórios revela os bastidores da notícia sobre as movimentações em torno de uma possível vitória de Dilma no âmbito das relações internacionais, Forças Armadas Brasileiras. O que Rosângela escreveu condiz com o documento O Mundo em 2022 de Samuel Pinheiro Guimarães. A seguir colocamos o artigo na íntegra.

Os disfarces preparatórios
Valor Econômico - 18/08/2010

Autor(es): Rosângela Bittar

Na campanha de Dilma estão avançadas as negociações em torno da formação de governo. Negar o adiantado das providências faz parte do receituário destes momentos de campanha eleitoral dos candidatos à frente nas intenções de voto. Querem evitar, óbvio, a frustração de uma vitória cantada antes da hora, quando os adversários apenas iniciam a luta que acreditam levá-los a disputar um segundo turno. Mas há momentos em que a realidade se deixa trair, e este, atual, é também um deles. Na campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff, estão avançadas as negociações em torno da formação de governo e definição de seus princípios.

Um desses é que a economia será equacionada, se eleita Dilma for, exatamente com o equilíbrio de forças com que se apresenta hoje no governo Lula. "O problema da economia ficou consolidado. Deve continuar a haver uma tensão produtiva entre o novo desenvolvimentismo e uma política macroeconômica consistente, séria, que não brinca em serviço. O governo vive hoje essa tensão, e ela, está provado, é benéfica". Segundo este raciocínio de um líder com trânsito nos governos atual e futuro do PT, o governo do PSDB (1994-2002) "capotou quando deixou de viver essa tensão e passou a ter em Pedro Malan o sabe tudo".

Isto significa que no centro da campanha da candidata do PT vigora a tese de que o embate entre Guido Mantega (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central), que já foi até maior e arrefeceu bastante neste período de campanha eleitoral, com o notório jeitinho da adaptação do BC ao momento, deve continuar. E, por que não, ser conduzido até por um tempo pelos mesmos personagens, para dar conforto ao novo governo no seu início. O presidente do BC e o ministro da Fazenda, por sinal, não dão sinais de que pretendam sair.

"O choque estéril não é bom, mas se produzir resultante é produtivo". Este princípio, segundo os interlocutores da candidata, desemboca em desenvolvimento e crescimento com inclusão social, "mas com o pé no chão, respeitando certas regras e garantindo segurança". O exemplo citado como prova de que deu certo "é a atuação desses dois polos da política econômica na crise, a forma como a enfrentaram. Portanto, o modelo é bom e vai permanecer".

Um segundo princípio que norteia as conversas de montagem do novo governo vem também do atual: o crescimento dos investimentos públicos sem limites e sua interação com a inclusão social "como motor do desenvolvimento".

Uma política externa que atribua peso forte ao diálogo sul-sul é outro traço que estica a atual performance do PT ao futuro governo se eleita Dilma. E, nesse caso, também pode haver uma permanência, por algum tempo, dos atuais condutores das relações externas do Brasil com o mundo. Em entrevista recente ao Valor o chanceler Celso Amorim informou, quando perguntado se permanece no cargo, que não quer "constranger Dilma Rousseff", declaração que, se não houvesse para ele possibilidade de continuar, já estaria constrangendo.

Outro princípio já mencionado em discussões de políticas e pessoas para um governo Dilma é o da prevalência do "poder civil sobre as Forças Armadas", uma obviedade desde o fim dos governos militares, ao mesmo tempo em que se acrescenta para essas o instrumento de um papel mais efetivo na estratégia nacional de defesa. Aqui não se fala em permanência do ministro Nelson Jobim, ainda, o que não significa que ele não esteja nos planos deste futuro governo que teria o PMDB, na Vice-Presidência, como poder autoproclamado "moderador".
Definida, com certeza, e sobre ela já falou até a candidata Dilma Rousseff, está a política "da construção das empresas nacionais campeãs, que saíram do outro lado da crise com apetite e poder de competição", como define o interlocutor de comando da campanha. No rol de citações por ele apresentadas, estão a Vale, a Petrobras, Gerdau, Embraer, empresas de alimentos, empreiteiras. "Na área financeira nos atrasamos um pouco, mas temos o Banco do Brasil, o Itaú, o Bradesco. Essa política continuará porque se não tivermos grandes empresas, não conseguiremos ter papel importante no comércio do mundo".
As conversas da direção da campanha do PT não conduzem mesmo, como se tem dito, a definitivos nomes de ministros que comporão uma nova equipe. Isto está fechadíssimo com duas, três pessoas no máximo. Reafirmam-se, apenas, os princípios, espécie de cláusulas pétreas, sobre os quais seriam erguidas "as novas prioridades", estas sim diferentes das atuais. Por exemplo: no governo Lula, a área de Minas e Energia foi uma prioridade, segundo afirmam, pelo temor do apagão, que mesmo assim não foi de todo evitado. Em um governo Dilma, seriam atribuídas prioridades às Comunicações, à Educação, à Ciência e Tecnologia.
Quem vai conduzir o quê dependerá do resultado das urnas. Há um grupo de políticos e personalidades que estarão no futuro governo, ao lado de outros que permanecerão, independentemente da correlação de força dos partidos da aliança eleitoral. Este grupo tem preponderância do PT. É o caso de Antonio Palocci, Luciano Coutinho, José Eduardo Dutra, José Eduardo Cardozo, Fernando Pimentel, Rui Falcão, Franklin Martins, além de petistas importantes que vierem a perder eleições majoritárias e uma grande quantidade de técnicos-militantes com cargos no atual governo. Mas a participação dos partidos dependerá da sua força eleitoral. Politicamente, segundo avalia um especialista com trânsito nos dois governos, Dilma tem uma aliança mais consolidada do que o Lula teve.
"O PT e o PSB sairão muito fortes das eleições. A aliança com o PMDB foi um grande ganho, com todos os problemas típicos do PMDB. Se as forças aliadas conquistarem maioria expressiva na Câmara e estável no Senado, a situação política para Dilma será de total governabilidade".
O que se considera cedo, nas conversas do alto escalão da campanha, é a escalação de nomes. "Não vai mudar muito a correlação de forças que está aí. Não será mais 2006, muito menos 2002, as prioridades vão mudar, mas não será um governo ideologicamente muito distinto do atual".