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sábado, 16 de outubro de 2010

Imagens da violência no México

Violência no México: realidade ou distorção?

O blog do NPPA dá enfoque à violência no México  que poderá ser um argumento válido para a intervenção militar e econômica dos Estados Unidos no México, chamado Plano México. Ernesto López Portillo da Ong Insyde questiona esso onda de violência e afirma para o que  e a quem serve.

Entrevista Ernesto López Portillo  da INSYDE ao site Comunidade Segura http://www.comunidadesegura.org/fr/node/35108

ENTREVISTA/ Ernesto López Portillo (INSYDE www.insyde.org.mx)
"Violência atormenta o México", "Violência diminui, apesar de mais dez execuções", "O México vive guerra do tráfico". Estes são alguns dos títulos publicados em diferentes jornais sobre a situação de violência em que vive o país. Entretanto, para o mexicano Ernesto López Portillo, do Instituto para a Segurança e a Democracia (Insyde), o problema está sendo superdimensionado:
"No México, o problema da insegurança e da violência não se explica através do crime organizado. As pessoas estão tendo uma imagem distorcida da realidade. Temos que entender o contexto". A Insyde http://www.insyde.org.mx/ é uma organização independente que trabalha os temas de prestação de contas da polícia, mídia e violência e presta assessoria a organizações da sociedade civil.
Como o senhor classifica a violência no México?
De acordo com os indicadores internacionais, o México não é um país violento. A média de homicídios nunca passou de 18 ou 19 por 100 mil habitantes. O que está acontecendo tem duas características: a violência associada ao crime organziado, que cria uma imagem distrocida já que não é uma violência generalizada contra objetivos indiscriminados, mas entre grupos envolvidos com o crime organizado, e a violência comum, intrafamiliar. Esta sim, cresceu, principalmente contra mulheres e crianças.
O presidente Felipe Calderón lançou operações conjuntas das Forças Armadas e da polícia em vários estados considerados os mais afetados pelo crime organziado. Quais foram as justificativas?
Calderón solicitou a interferência do Exército depois de realizar uma análise crítica da polícia que detectou a ausência de um sistema de inteligência confiável. E, sem inteligência, não se pode combater o crime organizado.
Qual é a sua opinião a respeito desta medida?
A polícia realmente não tem um sistema consolidado de inteligência policial. No entanto, é complicado utilizar as Forças Armadas sem uma avaliação das organizações de direitos humanos. Também é importante que a ação dos militares tenha uma duração curta e que seja feita a reforma da polícia.
Quais são as implicações de se utilizar as Forças Armadas em operações deste tipo?
O Exército não tem transparência. Os militares são julgados por tribunais militares e isto impede a prestação de contas à sociedade civil, o que pode ser perigoso.
Quais são as linhas gerias da reforma prometida pelo Estado? A Insyde está envolvida?
Existe um pacote de medidas que inclui uma reforma policial que já está em processo e, aparentemente, tenta fazer um redesenho institucional da Polícia Federal (PF). Mas vale destacar que, dos 1.600 corpos policiais que existem no país, a PF constitui apenas 6% do total. A Insyde faz monitoramentos, mas não está envolvida oficialmente.
Quais são as recomendações da Insyde para a reforma da polícia?
Existe uma lista de medidas concretas que deveriam ter sido aplicadas há muito tempo. São elas:
- Consolidar o serviço de carreira da polícia civil
- Criar sistemas modernos de controle sobre a operação policial
- Envolver o poder Legislativo na revisão da base legal da polícia e em seu controle
- Profissionalizar os juízes também sobre como lidar com julgamentos de policiais
- Introduzir na avaliação da polícia os índices de confiança como principal indicador do estado geral da instituição.
O que significam índices de confiança e como funcionariam como indicadores de uma boa polícia?
Índice de confiança é um indicador utilizado em muitos países e coletado através de pesquisas públicas com a sociedade. No México, a polícia está em último lugar na opinião da população em relação à confiança, junto com o Congresso, os partidos políticos, o Poder Judiciário e o Ministério Público.
Em relação ao tráfico de armas, qual é a magnitude do problema?
Não existem posições oficiais a respeito do mercado ilegal de armas no México. Não sabemos quantas armas estão nas mãos do crime organizado nem como chegam até lá. Não existem iniciativas acadêmicas nem institucionais de pesquisa e as polícias do país não mantêm um controle adequado sobre seu armamamento.
Nem o Exército sabe onde estão as armas nem em quais condições se encontram porque a polícia não dá informações - apesar de ser o Exército o responsável por dar permissões à polícia para comprar armas. O que se sabe é que o crime organizado utiliza armas de alto poder de fogo e que o mercado negro é muito amplo, principalmente nas fronteiras, onde existe tráfico de todo tipo.
Se o tema da violência não é tão urgente como se fala, como se explica esta preocupação?
A mídia explora o tema de maneira irresponsável e pouco profissional e põe em risco os próprios jornalistas, que acabam se tornando alvo do próprio crime organizado.
De quem é a responsabilidade por esta distorção?
A responsabilidade deve ser dividida entre o governo, que superdimensiona o problema para ganhar controle sobre o terreno, e da mídia, que vê na violência uma temática rentável, ao mesmo tempo em que revela uma incapacidade profissional para entender o efeito que provoca ao colocar a violência em primeiro lugar em sua agenda.
O senhor mencionou o despreparo da mídia para tratar o tema. O que poderia ser feito para melhorar?
Os meios de comunicação precisam ser capacitados em dois níveis. Primeiro, a respeito das características do sistema penal e seu impacto nos direitos humanos. Segundo, no tema em si. Geralmente a mídia aceita a versão oficial como se fosse a única versão existente ou como se fosse a versão mais confiável simplesmente por ter sido emitida pelo Estado. Desta forma, se convertem em transmissores da versão oficial e não cumprem a sua missão de ser um instrumento de acesso à informação.