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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

10/08/2011 - 07h00


Amorim rebate críticas e defende general do Exército

ELIANE CANTANHÊDE

COLUNISTA DA FOLHA

Em resposta aos seus críticos militares, o novo ministro da Defesa, ex-chanceler Celso Amorim, provoca: "Você não pode fazer das Forças Armadas uma coisa partidária nem para a esquerda, nem para a direita".



Em entrevista no novo gabinete, Amorim, 69, disse que o comandante do Exército, general Enzo Peri parece uma pessoa "não apenas ilibada, mas até um asceta".



Um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União), como a Folha revelou na terça-feira, diz que Enzo favoreceu firmas ligadas a militares ao dispensá-las de licitação entre 2003 e 2007.



Sérgio Lima/Folhapress



O recém-nomeado ministro da Defesa, Celso Amorim, durante entrevista à Folha em seu gabinete em Brasília



Folha - Quem convidou o sr. a presidente Dilma ou o ex-presidente Lula?



Celso Amorim - A presidente Dilma, claro. Fui sendo prevenido aos poucos, ela me ligou poucos minutos antes do anúncio, e eu só falei com o presidente Lula no domingo, depois de conversar pessoalmente com ela.



Folha - O sr. tinha mágoa de não ter sido convidado para nada por ela na troca de governo?



Mágoa nenhuma. Sou a favor da renovação e eu não podia querer me perpetuar num cargo ou disputar outro. Já tinha até alugado apartamento em Brasília para o depois. Essa coisa de que não nos damos bem é do imaginário. Ao contrário, nós nos damos excelentemente bem.



Folha - O seu nome foi cogitado para a Defesa quando o ministro Waldir Pires caiu e depois no início do governo Dilma. O sr. tinha a expectativa de assumir a pasta?



Nunca tive essa expectativa, nem era uma aspiração, mas há uma relação óbvia entre as funções dos ministérios das Relações Exteriores e da Defesa. Eu já considerava minha carreira de homem público completa, esperava ser professor, colunista, palestrante.



Folha - Aliás, o sr. mantém a crítica que fez na revista "Carta Capital" ao voto favorável do governo Dilma a um relator especial da ONU para apurar abusos contra Direitos Humanos no Irã?



Hoje, eu sou parte do governo e tenho de participar solidariamente das decisões do governo, e essa pasta pertence a outro ministro. Como intelectual independente, o que eu escrevi e disse claramente é que, se fosse eu, não teria tomado aquela atitude.



Folha - Uma das mais fortes críticas que oficiais militares fazem ao sr. é justamente a ligação com o Irã.



Nós nunca ficamos amiguinhos do Irã, e o Irã jamais foi uma prioridade da nossa política externa. O que foi uma prioridade, sim, num determinado momento, foi resolver um problema grave para o mundo que, aliás, continua existindo: o problema do programa nuclear do Irã. Como resguardar de um país ter um programa país e ao mesmo tempo resolver as desconfianças que havia? Tentamos viabilizar uma proposta dos países do Ocidente, a começar dos Estados Unidos, que depois mudaram de posição e acharam que não era mais assim. Mas a verdade é que tivemos estímulo deles. Ou seja: nunca houve uma aventura iraniana, como alguns querem fazer crer. Houve uma atitude independente e transparente nossa.



Folha - O sr. é "esquerdista"?



Esses rótulos, é melhor deixar os outros colocarem. Uns dizem que fui colocado pela presidente Dilma por ser nacionalista, o que agrada aos militares. Outros, que foi porque sou esquerdista, o que não agrada a eles. Mas, no Brasil, nacionalismo não é confundido com esquerdismo?



Folha - A presidente disse que o sr. é patriota. Como o sr. define esse conceito?



Nossa ideologia é a pátria e a Constituição. Fui sempre um profissional do interesse nacional. Uma coisa é você ficar trancado na sua casa, torcendo para o Brasil num jogo de futebol, o que é muito bom e todos nós fazemos isso. Mas outra é você ser um profissional do interesse nacional. Acho que sempre fui e de várias maneiras, em negociações comerciais, políticas, de segurança nacional. Você não descreve com palavras e sim com atitudes.



Folha - A brincadeira automática, depois que a presidente disse que o sr. é patriota é que o Patriota não é nenhum Amorim... Já disseram até que ele volta na prática a ser secretário-geral do Itamaraty.



Isso não tem nenhum sentido. Eu tenho muito o que aprender aqui na minha pasta, nem vou ter tempo para olhar para a dos outros. Eu e o Patriota trabalhamos juntos quinze anos e, desse susto, nem ele nem vocês morrem.



Alan Marques-08-ago.2011/Folhapress



Presidente Dilma cumprimenta seu novo ministro da Defesa, o ex-chanceler Celso Amorim, durante a posse



Folha - O sr. vai trazer diplomatas?



Não estou pensando nisso.



Folha - Vai trocar eventualmente algum comandante militar?



Não é minha intenção nem recebi nenhuma orientação nesse sentido, ao contrário.



Folha - Num dos seus artigos, o sr. também escreveu que não são satisfatórias as relações entre o poder civil e os militares e a responsabilidade por atos cometidos na ditadura. Como pretende avançar nos dois casos?



Não me recordo exatamente das palavras que usei nesse artigo, que era sobre como o Brasil pode ajudar na transição dos países árabes e comento o que ocorreu no Brasil, inclusive sobre as relações de civis e militares. Não é que eu disse que não são satisfatórias, mas que talvez algumas pessoas não vejam como satisfatórias. É uma constatação de um fato, mais do que um juízo de valor. Mas sei que a subordinação das Forças Armadas ao poder civil é clara e que a presidente Dilma exerce esse comando obviamente, e o ministro da Defesa é um instrumento dessa hierarquia.



Folha - Por que o sr. não fez nenhuma referência no seu discurso à Comissão da Verdade negociada entre civis e militares?



Fiz referências a Direitos Humanos, e acho que esse assunto, da Comissão da Verdade, está bem encaminhado. Acabei de chegar, hoje é meu primeiro dia de trabalho, e não tenho todas as respostas, mas tenho grande esperança de que a Comissão da Verdade possa ajudar a resolver essas questões. Vai ter algum reclamo de um lado e de outro? Não sei, mas sei que é uma boa base para aplainar a questão no futuro.



Folha - O sr. defende a responsabilização dos militares por atos cometidos na ditadura, como houve na Argentina, no Uruguai, no Chile?



Nem as situações que geraram os fatos nem as soluções foram idênticas. O mais importante é o restabelecimento da verdade. Acho que esse assunto está bem encaminhado. Se houver bom senso de todos os lados e uma boa articulação política, que cabe ao ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo, do PT], nós chegaremos a uma boa conclusão.



Folha - O general Augusto Heleno...



A quem aprecio, pelo bom trabalho que fez no Haiti e que eu acompanhei, porque nós trabalhamos juntos...



Folha -... disse que o comprometimento ideológico tem repercussão altamente negativa entre os militares. O sr. concorda?



Acho que você não pode fazer das Forças Armadas uma coisa partidária, mas acho que nem para a esquerda, nem para a direita, nem para o centro. Agora, patriotismo é patriotismo. Cada um interpreta a seu modo, e para isso nós temos a presidente da República, que é quem escolhe, quem decide e quem foi eleita pelo provo brasileiro.



Folha - E as reações de setores militares contra a escolha de um novo diplomata, depois da passagem do embaixador José Viegas pela Defesa?



Não fui escolhido por ser um diplomata. Fui ministro por nove anos e meio, no governo Itamar e nos oito anos do presidente Lula, e ministro é um cargo político. Estou assumindo um lugar novo que tem muitos desafios para mim, como teria para qualquer outro. Mas a gente aprende, se trabalhar com afinco e souber ouvir.



Folha - Vou lhe repassar uma pergunta que me foi feita por um oficial: e se fosse um general mandando no Itamaraty, os diplomatas iriam gostar?



Os diplomatas são muito disciplinados, a tradição era que os ministros não fossem da carreira e houve mesmo um que vinha da carreira militar, o general da reserva Juracy Magalhães. Então, o importante é ser patriota, ter humildade para ouvir e capacidade para decidir.



Folha - Se a gente somar tudo o que o sr. disse no seu discurso de posse sobre soldos, equipamentos, investimentos, o sr. vai precisar de muitos bilhões de reais, mas os tempos não são justamente de corte?



Bem, eu não vou resolver isso sozinho. O que eu disse é que vou me empenhar e que percebo uma sensibilidade grande da presidente para a Defesa.



Folha - Ela deu algum sinal de que vai descontingenciar recursos para facilitar sua chegada?



Acho que não seria correto eu falar sobre isso, mas certamente vou falar com os ministros da área econômica. Qual a solução? Quando será a solução? Não sei. Vamos ver. E a questão do investimento na indústria de defesa faz parte da solução, não do problema. Nos EUA, a empresa privada é responsável pelos investimentos em ciência e tecnologia, mas, ora, tudo por encomenda do Pentágono. Isso mostra a importância que a Defesa tem para a indústria, para o desenvolvimento, para os empregos, para a tecnologia de ponta. A aviação brasileira nasceu dessa forma.



Folha - E o outro lado da moeda? Boa parte, ou a maior parte, da responsabilidade da crise norte-americana é justamente pelos gastos na área militar.



Mas ninguém fala que vamos nos envolver em aventuras militares como os EUA se envolveram. Eles estão com duas a três guerras ao mesmo tempo.



Folha - No domingo, antes mesmo da sua posse, mulheres de militares fizeram manifestação por aumento de soldos. Os comandantes lhe pediram isso na reunião do fim de semana?



Foi mais geral. Vamos esperar um pouquinho.



Folha - E os caças, vêm ou não vêm?



Os caças terão que vir. Achava isso como ministro das Relações Exteriores e continuo achando agora como ministro da Defesa. Mas o momento exato ainda não dá para dizer.



Folha - Nisso, o sr. e o ministro Jobim combinam? Ambos querem os Rafale franceses?



Havia um problema de preços e toda uma discussão sobre transferência de tecnologia. Naquela época, no governo Lula, parecia que o que tinha mais condições de fazer essa transferência era o francês. Se ainda é, não sei, porque não acompanhei o desenrolar das discussões sobre isso e sobre uma renegociação de preços.



Folha - Naquele momento, o recuo não foi por causa de cortes no Orçamento, mas sim a chateação do presidente Lula porque o Sarkozy tirou o tapete do Brasil na discussão sobre Irã na ONU?



O presidente Lula disse isso para você? Para mim não disse...



Folha - Como fazer com o programa nuclear da Marinha, se não há dinheiro para mais nada?



A última visita interna que fiz como chanceler foi justamente a Aramar, até porque sempre fui um entusiasta do programa nuclear da Marinha. O Brasil tem de ter independência nessa área, ter capacidade de dominar o ciclo completo. Acho que vai ter recursos, sim. A presidente é nacionalista, patriota e sabe da importância de proteger os nossos recursos, principalmente agora com o pré-sal.



Folha - Como o Brasil, com uma dimensão continental, com Amazônia, pré-sal e água, não tem satélite até hoje? É possível falar em soberania?



São projetos que continuarão a ser desenvolvidos, em conjunto com o Ministério de Ciência e Tecnologia. Há sensibilidade para isso. Quanto à soberania, o mais importante é a atitude psicológica. Você tem de acreditar que é soberano. Você pode ter satélite, foguete, o que quiser, mas sem atitude sua soberania não vale nada. Se tiver atitude certa, vai ter o satélite certo, mas você pode ter o satélite certo e não ter a atitude certa.



Folha - E o acordo com os EUA para o uso da base de Alcântara, vai avançar?



Foi paralisado no Congresso Nacional e não se trata de questão ideológica. Não tem muito cabimento brasileiros não terem acesso a certos lugares dentro do território nacional. É uma questão de soberania inegociável.



Folha - O ministro Jobim e o sr. estabeleceram uma linha de distanciamento dos EUA, mas o chanceler Patriota faz uma linha de aproximação. Onde o sr. se encaixa agora?



Você faz uma pergunta com várias premissas que comportam discussão. O ministro Jobim até patrocinou, junto conosco, um acordo militar com os EUA... Não percebi nenhum distanciamento enquanto fui ministro. Acho que o ministro Patriota faz jus ao nome, e o ministro Jobim também agiu patrioticamente. O que nós temos que ver é o interesse brasileiro. Às vezes, será interessante fazer acordo com os EUA e, em outras, com outros países. Temos de ter a cabeça aberta. É preciso acabar com essa mania de que o que é a favor do Brasil é contra os EUA.



Folha - Por que o sr. defende a saída do Haiti?



Defendo uma saída gradual do Haiti, pois cumprimos bem nossa missão lá, quero dizer, as Forças Armadas cumpriram. Dizem que democracia é quando um presidente eleito passa o governo para um outro presidente eleito, e foi isso o que ocorreu lá. Então, é hora de discutir uma saída organizada, inclusive com as Nações Unidas, claro. Não sei se em agosto, dezembro, janeiro, não é o que importa. O que importa é como. Uma possibilidade é sair, mas deixando um batalhão de engenharia do Exército lá, por exemplo.



Folha - Por que o sr. citou especificamente a África no seu discurso?



Cabo Branco é o ponto mais oriental do Brasil. Fica mais perto de Dacar e Cabo Verde do que de Porto Velho ou Rio Branco, provavelmente. Então, são nossos vizinhos. As águas territoriais brasileiras e da África ficam muito perto umas das outras, quase se tocam. Então, são vizinhos de Além-Mar, como diziam os militares, e isso exige cooperação.Trabalhamos juntos na área militar com Angola, Guiné Bissau, Namíbia. Mas nossa prioridade era e é a Unasul, para assegurar a paz que gera desenvolvimento.



Folha - Segundo reportagem da Folha, o comandante do Exército, Enzo Péri, é investigado pelo TCU pois, quando diretor do Departamento de Engenharia e Construção da Força, assinou 27 contratos sem licitação com um instituto que subcontratava empresas ligadas a militares. Que providências o sr. vai tomar?



Bom, o próprio general me disse que já há investigações militares e tomadas de conta iniciadas por ele próprio em relação a possíveis.... Não sei nem que termo usar, vamos falar possíveis irregularidades.



Folha - O comandante vai investigar ele próprio?



Lula Marques-6.ago.2011/Folhapress



Novo ministro da Defesa, Celso Amorin (de gravata) durante reunião no Palácio do Planalto com os comandantes militares



Essas coisas são muito difíceis de a gente falar, mas é preciso separar o joio do trigo. A minha forte impressão é de que estamos com o trigo. Estou há muito pouco tempo aqui, mal cheguei, mas tenho 50 anos de serviço público e conheço as pessoas pelo olho. Às vezes a gente erra, mas quase sempre. O general Enzo me dá a impressão de uma pessoa não apenas ilibada, mas até de um asceta. Minha impressão é totalmente positiva. O que tiver de ser investigado será investigado, mas é preciso ver isso tudo direito, sem precipitação.



Folha - Como o sr. pretende contribuir para a faxina ética que a presidente determinou em outras áreas?



Moralidade é importante em qualquer governo. As denúncias aparecem e são comprovadas? Têm de ter consequência. A presidente Dilma, me parece, vai aprofundar a inclusão social, o desenvolvimento e a moralidade pública.



Folha - Como foi seu encontro de hoje [ontem] de manhã com o antecessor Jobim?



Fui ao apartamento dele, porque ele está doente, com o rosto inchado, mas tivemos uma boa conversa sobre os projetos que estão em andamento.



Folha - Se houver resistências públicas de oficiais, como já houve nos bastidores, como o sr. pretende agir?



Não fique me colocando alçapões inexistentes...



Folha - Qual sua ambição no Ministério da Defesa? Quando o sr. sair, o que pretende deixar para dizer que a missão foi cumprida?



Ter deixado o Brasil mais capacitado a se defender, ter uma atitude ainda mais altiva, sem abaixar a cabeça.



Folha - O deputado José Genoino vai continuar na Defesa?



Vai. Se quiser, pode botar um ponto de exclamação.



terça-feira, 9 de agosto de 2011

Demissão anunciada


Jobim não era 'gente de Lula', muito menos de Dilma. O que o sustentava era a autoridade ao lidar com militares, diz professora

07 de agosto de 2011
1h 04

O Estado de S.Paulo

Analistas avaliam a saída de Nelson Jobim da Defesa como mais um indício de "crise" no governo de Dilma Rousseff. Crise: adoramos essa palavra.
Essa foi uma demissão anunciada desde a posse da presidente. Cada governo precisa imprimir sua marca, formar seu grupo. Jobim não era "gente de Lula", muito menos de Dilma, mas acabou na pasta por injunções que fogem da lógica partidária e parlamentar que tanto prezamos. Não foi trocado no início do ano porque essa pasta não era cobiçada e porque fazia um bom trabalho numa área em que o governo sempre pisou leve.



Ele foi de fato o primeiro ministro da Defesa de Lula. Lá chegou porque tem autoridade e conhecimento jurídico para lidar com a questão militar. Lula queria evitar a repetição das desastrosas experiências dos antecessores, muitas vezes desautorizados pelos subordinados e pelo próprio presidente.



Desde a redemocratização os temas militares permaneceram um cluster. Fernando Henrique quebrou o tabu ao criar o Ministério da Defesa, mas empenho, ou oportunidade, não houve para que a pasta se tornasse efetiva no controle civil democrático sobre as Forças Armadas. Os militares continuaram se autorregulando.



Durante o governo Lula quatro circunstâncias explicitaram isso. A demissão do ministro José Viegas em 2004, devido às reações militares contrárias à abertura dos arquivos da ditadura. À revelia de seu superior, o comandante do Exército lançou manifesto defendendo o golpe de 1964 e a ação repressiva da Forças Armadas. Lula não quis se indispor com os quartéis e não considerou a possibilidade de demitir o comandante. Desautorizado em sua função, Viegas saiu da pasta. Foi substituído pelo vice-presidente José Alencar, uma demonstração do prestígio que o presidente dava à corporação.



O segundo se deu em duas tragédias aéreas: os acidentes com o avião da Gol em setembro de 2006 e com o da TAM em julho de 2007, em meio ao movimento salarial dos controladores de voo. Nessas negociações, o então ministro da Defesa, Valdir Pires, foi o grande ausente. O assunto ficou restrito ao manejo do comandante militar.



O terceiro caso ocorreu em 2008 quando o então ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou ser favorável à revisão da Lei de Anistia. A declaração provocou intensa reação oficias da reserva e da ativa, entre eles o comandante militar do Leste e o chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército. Lula proibiu seus ministros de voltarem a tocar no assunto, e o ministro da Defesa, já então Jobim, garantiu que não haveria sanções para os indisciplinados. Assunto encerrado para efeito do "público externo", reafirmando a capacidade da corporação de continuar atuando como ator com poder de veto nos temas relativos aos crimes da ditadura.



O quarto ocorreu quando o governo anunciou o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, em dezembro de 2009. Os três comandantes militares reagiram contrariamente às cláusulas que propunham rever abusos contra os direitos humanos durante a ditadura e colocaram seus cargos à disposição. O Plano foi revisado em maio de 2010, para incorporar as demandas militares.



Essa situação começa a se reverter em agosto de 2010, quando Nelson Jobim anunciou medidas legais e administrativas denominadas Nova Defesa. Entre elas: a criação do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, a quem caberá determinar o emprego militar das Forças Armadas; a delegação ao ministro da Defesa para tratar do orçamento das Forças; a criação do Livro Branco da Defesa, cuja elaboração começou em inícios de 2011; e a criação da Carreira Civil de Defesa, o que levaria a um porcentual paritário entre civis e militares no ministério.



Outra importante contribuição do ministro Jobim foi a elaboração da Estratégia Nacional de Defesa, documento polêmico, definido por três eixos: reorganização e reorientação das Forças Armadas; indústria de defesa; e Serviço Militar Obrigatório. Da mesma forma, Jobim teve importante papel na criação do Conselho de Defesa Sul-Americano.



O ministro que sai é um quadro do PMDB, com simpatias tucanas - e é bem-humorado. Com momentos às vezes confusos, avançou na institucionalização do Ministério da Defesa e na ampliação do debate sobre o papel, o custo e o tamanho das Forças Armadas. A pasta deve ser cobiçada, por razões não muito nobres. O importante é o País continuar com uma consistente política de debate nos assuntos da defesa, com o reforço acadêmico de projetos como o do Pró-Defesa.



Forças Armadas custam muito caro em todos os países e também entre nós. Representam o terceiro orçamento ministerial, depois da Saúde e da Educação. Apesar disso, estão sucateadas. É preciso discutir mais e melhor como maximizar esses recursos. Que defesa queremos e precisamos para proteger o povo e o Estado brasileiros. Esse assunto nunca mobilizou os partidos, nunca deu votos. O Congresso nunca se interessou por isso. O Ministério não foi disputado no início do governo, podia esperar substituto. Só que ali há balas e canhões que nem sempre foram bem utilizados. E há os que ali querem bomba atômica. Não deve por isso ser um espaço a serviço de ideologias toscas.

MARIA CELINA D''ARAUJO, CIENTISTA POLÍTICA, É PROFESSORA DA PUC-RIO

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A saída de Jobim do Ministério da Defesa.

A saída de Nelson Jobim do Ministério da Defesa e a possível nomeação do ex-Ministro das Relações Exteriores representa uma grande mudança na condução do Ministério da Defesa. Jobim se aproximou dos Comandos Militares (Marinha, Exército e Aeronáutica), procurou encampar as reivindicações da caserna. Teve a frente do processo de reaparelhamento das Forças Armadas. Segundo os telegramas mostrados pelo wikileaks seria o "amigo dos Estados Unidos" tendo falado sobre o anti-americanismo de Samuel Pinheiro Guimarães, então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Lula.
              Uma possível nomeação de Celso Amorim nos faria pensar o que seria isso, pois Celso Amorim, diplomata, defensor de uma política externa independente, tentou articular e angariar apoios às pretensões brasileiras de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, tentou mediar com o Irã no caso do enriquecimento de urânio. Sobretudo como seria um diplomata a frente do Ministério da Defesa, não seria o primeiro, vide o caso Viegas. As armas ou a diplomacia? Ou existe uma relação estreita entre a diplomacia e as forças armadas. Como será a reativação da indústria de defesa em sua gestão e o reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras? Será no mínimo interessante observar esse novo capítulo do Governo Dilma, sobretudo as relações entre militares e civis.

Samuel de Jesus
Mestre em História, Doutor em Sociologia e membro do NPPA.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ENTREVISTA COM RAFAEL RONCAGLIOLO, MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO PERU.

“Aspiro a un nacionalismo sudamericano”


Integración regional. “Si queremos tener peso político en el mundo, debemos hacerlo juntos”. Apuesta por el diálogo. “Reivindico el valor del liberalismo, que es la tolerancia religiosa y política”



Por: Cecilia Rosales Ferreyros – EL COMERCIO



Domingo 24 de Julio del 2011



Algunos consideran que Humala, en realidad, quiere acercarse a los países comunistas, izquierdistas…

Los países comunistas que quedan en el mundo son muy poquitos. No hay que agitar los fantasmas del pasado. Hay que mirar para adelante. Vamos a aplicar una política internacional de absoluta apertura a todos los países. No vamos a participar en bloques ideológicos ni en América Latina ni en el mundo. La guerra fría se acabó hace mucho. Claro que aspiramos a tener una buena relación con Rusia y ese incidente infeliz [de Alexis] hay que superarlo. Pero no a aspiramos a tener una relación de dependencia ni con Estados Unidos ni con Rusia. Estamos en un mundo global que significa favorecer el multilateralismo y no las posiciones unipolares.



En la campaña hubo temor porque se pensaba que Humala se plegaría a los países del ALBA…

Fue un temor fabricado por los medios, que se expandió. Me parece que fue un exceso de imaginación. Las primeras declaraciones y actos del futuro gobierno demuestran que esa campaña fue infundada. Lo que ha anunciado el presidente Humala es la vocación de tener relaciones de integración con todos los países. No va a tomar partido con unos países contra otros, en función de posiciones ideológicas y políticas.



¿Rescataría algo del modelo venezolano?

Con todo el respeto que tengo por Venezuela creo que tenemos poco que aprender de Venezuela. Es un país petrolero, mira al Caribe. Son realidades distintas, hay cosas que son discutibles allá que no están en discusión aquí. El compromiso del presidente Humala demuestra que no hay posibilidades de discutir sobre temas democráticos centrales. Es un país con el que debemos tener excelentes relaciones. Ojalá vuelva a la Comunidad Andina. No vamos a pensar en bloques ni pro ni anti-Venezuela.



García decía: Evitemos discusiones ideológicas y avancemos en lo que podamos. Ustedes tienen un discurso similar.

Durante el gobierno que termina hubo enfrentamientos muy fuertes con Venezuela y Bolivia. Con Ecuador en cambio tenemos una relación privilegiada que debemos profundizar. No queremos enfrentamientos con ningún país.



Eso fue en los primeros años del gobierno de García, pero en los últimos…

Se mejoró y en eso el canciller García Belaunde tuvo un papel muy destacado. Vamos a dar muchísima importancia a las relaciones con Bolivia y Ecuador.



¿Por qué reforzar la CAN?

El presidente Humala ha destacado dos prioridades: la CAN y Unasur. La CAN no es un invento arbitrario. Se fundamenta en un creciente comercio y en una historia común. Tiene dificultades porque las políticas económicas son distintas. Pero tenemos que hacerlo pese a las diferencias. Por otro lado está el gran esfuerzo de Unasur. En términos de la población y economía los países de América del Sur unidos seríamos una potencia mundial.



La negociación entre la CAN y la Unión Europea se trabó porque dos de sus miembros no creen en los TLC.

Eso no quiere decir que no podamos avanzar en un proceso de integración. No un mercado común, pero sí un mercado libre en América del Sur y que el tránsito de personas y mercancías sea cada vez más libre. Queremos abrirnos al mundo árabe y al Pacífico. Esa es la vocación natural, pero no puede reemplazar la solidaridad entre países que tienen un destino y una historia comunes.



Me recuerda el discurso de Alan García…

Me alegra coincidir. No estoy acá para diferenciarme del gobierno de García. Algunas de sus frases son felices y otras infelices, como la del perro del hortelano, que es profundamente antidemocrático porque niega la posibilidad de diálogo, y la democracia, básicamente, reside en la idea de poder dialogar. La teoría del perro del hortelano es la negación del diálogo, es la descalificación del adversario. Yo reivindico el valor básico del liberalismo, que es la tolerancia, religiosa y política. Es aceptar al otro, no satanizarlo.



¿Por qué se suspendió la cumbre de la CAN?

Por respeto democrático al presidente electo. Hacer una cumbre cuatro días antes de que tome el mando como despedida del presidente que se va, no me parece adecuado. El gobierno que termina no se caracteriza por haberle dado fuerza a la CAN. Lo correcto es que la reunión cumbre la haga el nuevo gobierno.



¿Qué va a pasar con el Arco del Pacífico?

Hay dos aspectos, uno de integración profunda que es muy interesante y el otro es que coinciden gobiernos que tienen un signo ideológico más o menos común, por lo que parece la alternativa del ALBA y en ese aspecto no interesaría porque sería un bloque ideológico. Es una cosa positiva, pero no como un compromiso ideológico contra otro bloque.



¿La región está preparada para que no haya bloques ideológicos?

El proceso de globalización descansa sobre una adhesión cuasi universal del libre mercado, pero también a los principios de la democracia y defensa de los derechos humanos. Estos ya son temas globales. En nombre de la globalización y la apertura de los mercados no se puede olvidar todo lo que tiene que ver con la democracia política y los derechos humanos. En la región yo pienso las cosas como procesos y Sudamérica está en un proceso de integración real.



¿Usted alude a los principios fundamentales, pero en Ecuador y Venezuela hay una constante presión contra los medios?

No estoy en condiciones de pronunciarme sobre cuestiones de política interna de Ecuador. Puedo decir que las buenas relaciones han pasado por encima de estas críticas externas a determinadas políticas gubernamentales. Tenemos que actuar de acuerdo con los intereses nacionales de cada país. Humala ha dicho que va a ser respetuoso de la libertad de expresión, pero también hay abusos de un lado y del otro, pero eso no es una razón para no tener relación con otro país. La vocación es integracionista.



¿Qué puede comentar de su reunión con Wagner?

Del embajador Wagner tengo la mejor opinión. Me dio una larga explicación del proceso de La Haya y tan pronto como seamos gobierno se evaluará, como es natural, a todos los funcionarios. Entonces anunciaremos si se mantiene la comisión, si se va a reforzar. Es un tema que se va a conversar con el presidente Humala. Puedo adelantar que tengo una opinión muy positiva tanto de la trayectoria profesional del embajador Wagner como de su desempeño al frente de la comisión. Por ahora es una opinión personal.



¿Cómo ve el futuro de la relación con Chile?

No lo sé. El tema de la delimitación marítima está en La Haya y hay que dejarlo ahí, pero las relaciones bilaterales son integradas, no son compartimentos estancos. Vamos a seguir adelante teniendo claro que en las diferencias el Perú aplicará el derecho y la razón, no la fuerza.



Humala habló de una relación de paridad con Chile…

Queremos paridad con todos los países. Que los mismos derechos que tienen en el Perú tengan los peruanos allá.



También habló de reivindicaciones históricas…

La historia es un dato de la realidad. No se puede decir no existe miremos para adelante. Eso no quiere decir que el Perú vaya a revisar los tratados o algo por el estilo, pero sí que es bueno superar las cicatrices históricas que no pueden negarse.



¿Cree posible que Chile no respete el fallo de La Haya?

Un país que decide no acatar el fallo de la corte, instancia de la ONU, se vuelve un paria. Eso es bastante disuasivo. Pienso al mismo tiempo que todo país debe tener una capacidad disuasiva. Es parte de la naturaleza del Estado. Una capacidad de defensa creíble. Nosotros tenemos que tener una capacidad defensiva. Ahora está bastante deteriorada.



Alexis…

El viaje de Alexis fue un incidente infeliz que hizo mucho daño. El presidente Humala lo ha desautorizado. Este gobierno tiene algunos capitales políticos muy importantes. El primero es la lucha contra la corrupción, el segundo estar a favor de los pobres y excluidos. El viaje dio una impresión infundada de que el gobierno no va a ser tan fuerte contra la corrupción, como sí lo será.



¿Nos acercaremos más a Brasil?

Tenemos una alianza estratégica. Brasil y el Perú son los dos países centrales de América del Sur. No se puede hablar de ningún esfuerzo de América del Sur que no incluya al Perú, que mira al Pacífico, y Brasil, al Atlántico. Son el eje de la integración. En el gobierno aprista se estableció esta alianza estratégica que tenemos que mantener con cuidado, para poder desarrollar las actividades extractivas con respeto al medio ambiente y respeto a las comunidades. Y eso vale para las empresas de cualquier nacionalidad. Así como debemos pensar el futuro con los países andinos también estamos condicionados a pensar el futuro con Brasil.



¿Qué le gustaría haber logrado al final de su gestión?

Haber participado en un gobierno que realmente reduzca la pobreza. Ese es el tema central y la política exterior tiene que estar al servicio de eso. En el sector me gustaría avanzar en la integración andina y sudamericana. Hemos avanzado mucho con los TLC, pero poco en la cooperación entre nuestros países y esta debe darse en todo sentido: energética, transportes, comunicaciones, libre tránsito, mercado libre. Debemos priorizar a Sudamérica. Si queremos tener un peso político en el mundo, tenemos que hacerlo juntos. Eso no se da de la noche a la mañana, creo que la unión hace la fuerza. Aspiro a llegar a un nivel de integración muy alto y a desarrollar un nacionalismo sudamericano. Recuperar la posición que podríamos tener si no hubiéramos creado países diferentes.



¿El sueño bolivariano?

Sí. ¿Por qué no? La historia se hace con los sueños, no con los fatalismos del pasado.
Tags: governo Humala, Internacional, Peru, Rafael Roncagliolo

FONTE.

http://blogdofavre.ig.com.br/2011/07/entrevista-a-rafael-roncagliolo-proximo-ministro-de-relaciones-exteriores-del-peru/

Cúpulas da Unasul e Comunidade Andina estarão amanhã no Peru

Lima, 27 jul (Prensa Latina) O presidente eleito do Peru, Ollanta Humala, assumirá o cargo amanhã, um dia que também marcará sua estreia internacional com uma Cúpula Sul-americana e provavelmente outra Andi




Pouco depois de jurar o cargo e transmitir uma mensagem ao país no Congresso da República, Humala, um ex-oficial do exército, participará com dez de seus colegas da área de uma reunião extraordinária do Conselho de Chefes de Estado e de Governo da União de Nações de América do Sul (Unasul).



Na realidade, os governantes sul-americanos chegarão, a partir de hoje, para assistir à posse do novo presidente, um acontecimento, por ser para muitos analistas o primeiro líder de posições de esquerda eleito no Peru.



Dos 12 governantes de igual número de países da Unasul, estarão os da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai e só estarão ausentes os chefes de Estado da Venezuela, Hugo Chávez -por razões de saúde- e Guiana.



A reunião será "uma oportunidade para reafirmar esta vocação latino-americana e sul-americana que o presidente Ollanta Humala expressou com muita clareza e com muita força", assinalou o chanceler designado, Rafael Roncagliolo.



A Cúpula será realizada durante uma hora e meia, convocada por Humala, no palácio de Governo, no salão Túpac Amaru, batizado assim por outro militar nacionalista, o general Juan Velasco Alvaado (1968-75), que tomou pela força o governo e empreendeu um processo de transformações.



O encontro começará com um discurso do flamante presidente anfitrião, que antecipou que desenvolverá relações fraternas com todos os países latino-americanos, sem distinções ideológicas, e impulsionará a integração latino-americana.



Também manifestou que entre suas prioridades de política exterior estarão a Unasul e a Comunidade Andina de Nações (CAN).



A cúpula escutará um relatório da secretária geral da Unasul, María Emma Mejía, e depois terá um diálogo entre os chefes de Estado, que culminará com uma declaração conjunta que, segundo Mejía, reafirmará a institucionalidade do bloco.



O chanceler designado Roncagliolo, visitou ontem a CAN, com sede em Lima, e dialogou com os embaixadores dos países do grupo -Bolívia, Colômbia, Equador e Peru- sobre a iniciativa peruana de realizar também amanhã uma Cúpula Andina.



O encontro subregional estava previsto para o sábado passado, mas foi adiado a pedido do presidente eleito, por carecer de sentido que se realize com o então governante Alan García, a poucos dias do fim de seu mandato.



Roncagliolo expressou, também, ao secretário geral da CAN, Adalid Contreras, o interesse do novo governo de fortalecer a Comunidade Andina.



De outro lado, a Chancelaria confirmou que aos atos de transferência do comando presidencial assistirão 109 delegações dirigidas, 15 delas encabeçadas por chefes de Estado.